Espaço de discussão e reflexão sobre a experiência do olhar e suas reverberações no corpo na construção/remontagem do espetáculo de dança contemporânea "feche os olhos para olhar" da desCompanhia de dança.

sábado, 30 de novembro de 2013

Experiências da Circulação Klauss Vianna – por Yiuki Doi

Dezembro, reta final da corrida, quase terminando as atividades do Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012 que a desCompanhia foi agraciada. Falta somente a atividade OLHARES PARTILHADOS, evento de encerramento do nosso projeto que acontecerá amanhã, onde compartilharemos nossas experiências artísticas vividas na circulação do espetáculo feche os olhos para Olhar nos estado de Ceará (Itapipoca/Fortaleza) e São Paulo (Capital e Votorantim) com o público curitibano.

Apesar de utilizarmos o termo prêmio, acredito que a palavra mais apropriada é o sacro-ofício* para o projeto que realizamos esse ano. Ser contemplado pelo Prêmio Klauss Vianna é uma conquista de quatro anos que a companhia vem buscando; inclusive, para isso ser concretizado, investimos até numa consultoria sobre como escrever projeto para o Klauss Vianna - uma “ajuda ao universitário” experiente que passam comumente nesse edital. Resultado de 12 anos de esforços junto à consultoria culminou na conquista desse edital tão sonhado pela primeira vez. Mas, apesar da alegria, ser aprovado no edital de Circulação da Funarte foi somente o início da uma romaria** que sucedeu durante o ano, pois não é fácil executar uma circulação nacional com recurso financeiro mínimo e possuir o desafio em conseguir pautas e públicos nas cidades que não são familiares para a companhia. Mas como toda romaria com sacro-ofício, o final da jornada é uma sensação de alegria e satisfação por termos cumprido o que acreditamos ser o nosso o papel como artista.

*Sacro-ofício no sentido de ofício sagrado.
**Romaria não é ruim, pode ser ótimo, se não pode ser isto, acredito que não existiria.

Compartilho a seguir alguns dos aprendizados das viagens internas e externas durante as nossas temporadas.

  1. Viajar é necessário para si reconhecer – O valor da arte está em oferecer experiências estéticas para que o público possa transcender a si, e dessa maneira, voltar ao mundo com a potência de ação, seja para onde e como for. Ultimamente tenho pensado que se houver uma forma de sustentar a minha dança dentro de Curitiba, para o público curitibano, não teria problema viver só disso. Não sou bairrista, somente acredito no crescimento do micro para o macro e quero fazer diferença na cidade em que vivo. No entanto, circular é importante para ter a referência da nossa arte no mundo, nesse aspecto a receptividade do público paulistano e a generosidade do público cearense alimentaram a minha alma para estar mais forte junto a desCompanhia de dança.
  2. São Paulo, uma metrópole que engole as pessoas – Uma cidade megalomaníaca para minha pessoa, tudo é grande em escala e número: avenidas imensas, prédios altos, nº de apresentações culturais, estabelecimentos comerciais, restaurantes, carros, pessoas, etc. São Paulo me faz sentir como um pó que entra e sai na cidade sem fazer uma cócega sequer. Não importa se temos o apoio do MinC para circular, a cidade de São Paulo engole as pessoas – beirando ao anonimato a maioria dos reles mortais. Nessa conjuntura, para o sucesso da temporada na cidade é fundamental poder inserir as apresentações num evento cultural tradicional da cidade, ou apresentar num espaço cultural que já tenha uma rotina com certo público já cativo, ou talvez realizar parceria com alguma faculdade de dança ou instituições afins. No nosso caso da circulação em São Paulo foi importante a inserção do nosso espetáculo no evento Semanas de Dança do Centro Cultural São Paulo. Graças à articulação da nossa produtora, Cindy Napoli, e ao apoio do Centro Cultural de São Paulo, tivemos uma temporada com bastante público em São Paulo.
  3. A estrutura organizacional e sua relação com a linguagem cênica do grupo – Durante a temporada na Cidade de Votorantim-SP, nós fomos conhecer o Coletivo Cê, um grupo de artista com formações variadas (teatro, dança e música). A sede do coletivo era uma associação de bairro que estava desocupada – na busca de sustentabilidade do fazer artístico o grupo fez uma proposta de ocupação cultural que foi aceita pela comunidade. O interesse pela cultura popular aliada à própria origem da sede faz com que o grupo se relacione intensamente com a comunidade local. A impressão que tivemos é que isso influencia na forma organizacional de trabalho do coletivo e na própria criação da obra “Desmedida” que é itinerante e interativa nas ruas do bairro. No caso da desCompanhia de dança, a nossa sede é o Vila Arte Espaço de Dança - uma escola de dança da família da nossa diretora artística Cintia Napoli. O fato de termos um espaço para ensaiar sem pagar aluguel junto à liberdade de escolhas artísticas que o espaço proporciona contribuem muito para o desenvolvimento da nossa atual linguagem cênica.
  4. Um olhar externo para nos oferecer orientações após as apresentações - Os espetáculos da desCompanhia trabalha muito com estados corporais, improvisações, composição em tempo real, etc. No caso do espetáculo O feche os olhos para Olhar, ela é uma obra que apropria o espaço, ambiente e o público transformando tudo como parte interativo da obra; então, em cada cidade, a obra transmuta sua forma de manifestar, mas sempre mantendo a sua essência dramatúrgica. Nesse tipo de trabalho, o bailarino criador precisa do olhar externo da diretora artística Cintia Napoli para saber o que funcionou e o que não funcionou durante as apresentações. Apesar de no ensaio e na remontagem da obra feche os olhos para Olhar a Cintia estiver presente o tempo inteiro, durante a temporada do Klauss Vianna ela foi impossibilitada viajar conosco, pois ela também ocupa o cargo de diretora artística do Balé Teatro Guaíra desde 2012. Dessa maneira, dançar sem ter retorno de um olhar externo foi muito difícil para gente, mas naquela situação, mais do que nunca, foi importante acreditar nos nossos ensaios e anos de trabalho coletivo junto. Acho que amadurecemos muito viajando sem a nossa diretora artística.
  5. Não basta apresentar nas cidades, é necessário articular redes de contatos e buscar próximas oportunidades de sustentabilidade da nossa arte. Anos atrás quando fomos para São Paulo pelo edital de ocupação da Caixa, ou para participar da 3ª Mostra Lugar Nômade Dança, somente cumprimos a nossa temporada e voltamos para casa. Dessa vez, entre as apresentações de Votorantim e São Paulo reservamos nosso tempo para articular nossas redes de contato antes da temporada de São Paulo. Dentro da correria, montamos um material de venda (catálogo, proposta artística e vídeo) dos nossos últimos quatro trabalhos e fomos à luta (bailarinos e produtora). Visitamos alguns SESCs, fomos na Galeria Olido e entregamos convites para assistir nosso espetáculo para alguns dos curadores. Acreditamos que essa mobilização também proporcionou a nossa participação no Projeto Modos de Existir - SESC Santo Amaro - SP (29.10 à 10.11.2013). Na atual conjuntura econômica nossa, infelizmente, não somos somente bailarinos para criar e apresentar a nossa dança, nós precisamos buscar a sustentabilidade do nosso fazer artístico. Sei o quanto foi difícil a todos, realizar tudo isso e ainda apresentar no Centro Cultural de São Paulo, mas estou feliz de termos mantido os nossos comprometimentos e termos feito uma ótima temporada em São Paulo.
  6. Nordeste, lugar onde o corpo dilata naturalmente. Primeiro dia da apresentação em Fortaleza, quando fui pegar meu figurino estranhei a situação: meu corpo quente e dilatado junto ao figurino do feche os olhos para Olhar. Nunca tinha dançado esse espetáculo numa cidade tão quente, dessa maneira não lembrava o meu corpo nessa vibração pegando o meu figurino. Dei risada e compartilhei isso com a bailarina Juliana Adur. A nossa apresentação correu de forma tranquila, gostei da sensação que ficou após o espetáculo, porém tive retorno de um dos públicos que o nosso trabalho era leve. Estranhei, pois existem elementos que são viscerais dentro do nosso espetáculo para mim, porém quando recordei a apresentação realizada, realmente constatei que o meu estado corporal estava mais leve e volátil naquele dia; dessa maneira, muitos das questões emocionais que norteiam as minhas improvisações, que tenho liberdade de variar dentro de certa estrutura, naturalmente tinham sido mais leves. Percebi que nas apresentações dos seguintes dias eu precisava fechar um pouco o meu corpo, contrair emocionalmente e fisicamente em alguns momentos – dar maiores tensões na obra por minha parte. Acho que consegui realizar isso nos dias seguintes. Constatei que o clima e o ambiente possui um poder imenso sobre a nossa maneira de dançar, principalmente para nossa companhia que utiliza muitos estados corporais em cena.
  7. Taxista de Fortaleza são mais flexíveis do que os de Curitiba. Mesmo com edital do MinC, economizar é preciso, essa foi a nossa realidade e aceitamos isso. Nós sabemos que um taxi comum geralmente transporta 4 pessoas, porém em Fortaleza estávamos em 5 pessoas para se deslocar. Dessa maneira, quando alguém de nós parava um taxi, entravamos todos de uma vez no carro, logo depois nós conversávamos normalmente, alegres como sempre somos. Nesses momentos, às vezes eu via o olhar do motorista pelo retrovisor, mas os taxistas de Fortaleza são mais tranquilos comparados aos taxistas de Curitiba (Ufa, que bom). Enfim, compartilho isso, pois viajar pelo Klauss Vianna não significa que tudo é maravilhoso e cor de rosa: precisamos dividir quarto, realizar uma agenda coletiva, transformar o quarto do hotel em escritório de projeto, calcular a quota financeira para a refeição, etc. Manter o bom humor durante 15 dias é difícil, foi um desafio e confesso que aprendo muito com os demais integrantes da desCompanhia de dança.
  8. Parceria com teatros universitários, alunos e professores correlacionados à arte funciona muito bem. Na temporada na cidade de Fortaleza, a priori o espaço ideal para o nosso espetáculo era o SESC IRACEMA. Também tentamos inserir nosso trabalho dentro da programação do Bienal Internacional de Dança do Ceará. Porém, na prática as coisas são difíceis mesmo – nada disso aconteceu. Então, o produtor local Rodrigo de Oliveira conseguiu uma pauta no Teatro Universitário Paschoal Carlos Magno, na própria Universidade Federal do Ceará onde a Thereza Rocha, integrante do nosso projeto do Klauss Vianna, ocupa o cargo de docência. No final das contas, acho que foi genial nós termos apresentado dentro da Universidade. No colóquio Olhares Diálogos Dança, da Marcia Tiburi e Thereza Rocha, tivemos em torno de 70 pessoas atentas e entusiasmadas como público. Os três dias da apresentação do feche os olhos para Olhar foram lotadas de público carismático. Também percebi a importância do Teatro Universitário ser a sede do grupo de teatro Pavilhão da Magnólia que nos acolheu e ajudou na divulgação da nossa temporada. Outra coisa primordial para o sucesso da temporada em Fortaleza foi termos um produtor local eficiente. Muito obrigado a Entretantas Conexões em Dança que nos indicou o Rodrigo de Oliveira.
  9. Possuir bons produtores locais é essencial para o sucesso das temporadas, mas possuir produtores cicerones e companheiros não tem preço durante as viagens. Esse foi uma observação da produtora da desCompanhia, Cindy Napoli, fez e que todos nos compartilhamos. Se viajarmos para cidades em que não conhecemos a cadeia produtiva da dança, é necessário possuirmos um produtor local eficiente. Mas descobrimos que quando deparamos com produtores locais como Vera Almeira (Votorantim-SP), Rodrigo Oliveira (Fortaleza-CE) e Gerson Moreno (Itapipoca-CE) que possuem um cuidado a mais do que um relacionamento profissional, tornando-se um amigo e cicerone que apresenta a cidade e seus fomentos culturais (museu, boteco, restaurante, hábitos, músicas, vídeos, etc.) faz toda diferença para a troca que nós artistas buscamos com o mundo. Além do mais, para nós, viajar em temporada também é estar atento as oportunidades da sustentabilidade da nossa arte. Ou seja, é cansativo em muitas situações, e nessa correria de vida de artista contar com aconchego e afago desses produtores locais não tem preço! Um agradecimento especial a esses produtores queridos.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Circulando pelo Nordeste

Mais 15 dias fora de casa, o que eu faço com a cachorra? minhas crianças vão na lembrança. E lá se vai a desCompanhia pelo Nordeste Brasileiro. Só então chegando lá, redescubro o prazer de dançar. E aqui respondo umas perguntas que sempre me são feitas. Para onde tua dança te leva? Porque você dança? Danço para sempre ter essa sensação, e nessa circulação em especial aprendi um pouco dançar com as palavras, e porque não com os ouvidos, ouvindo Márcia Tiuri e Thereza Rocha percebo que minha dança é bem mais utilizada e aproveitada em todos os sentidos.
Circular 15 dias pode parecer pouco, mas são 15 dias de convivência e novas amizades intensas, pessoas que passam pela gente, e que sem perceber nos roubam da gente mesmo, nos emprestando seus sotaques, alegrias e generosidade, conhecer cada um foi uma delícia.
Reconhecer um trabalho sério em dança mesmo que seja no sertão, perceber que é aí para mim que a dança unifica, junta forças e ganha o mundo.
Saindo de Curitiba, cinza e fria para Fortaleza com um sol arretado e uma alegria de viver me recorda um dança que se discute em todo canto. PRONTO! Agradeço mais uma vez o Prêmio Klauss Vianna 2012 por essa vivência fantástica e que venham muitos e mais prêmios como esse para poder misturar cada vez mais a dança por todo o Brasil, aproximando e instigando o pensamento em dança em muita gente por ai.


                                                                                                                Peter Abudi

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Impressões da Circulação

Viajar com a des é sempre muito bom. Particularmente eu sinto que a experiência da viagem sempre amadurece a companhia com uma intesidade diferente do tempo vivido na nossa própria cidade. Parece que a gente sempre volta sabendo melhor o que fazemos e o que queremos ainda fazer para continuarmos vivos e ativos na dança. O contato com o diferente, tanto no sentido de novos contextos como também de novas pessoas que cruzam nosso percursso, nos faz crescer imensamente. Como diz nossa querida colaboradora deste projeto Márica Tiburi, “juntos somos outros”.

Votorantim – É muito interessante observar o que acontece com algumas cidade de interior no Brasil em se tratanto de movimentação artística e cultural. Votorantim é uma delas, cheia de gente com muita vontade de fazer arte e de trocar. Tivemos um público farto e extremamente disponível nos 2 dias de apresentação, e no dia do bate-papo muita gente também ficou para conversar com a gente. Compartilhamos um pouco sobre nossos processos de criação e conversamos sobre as políticas culturais para a dança fazendo alguma comparações entre cidades menores e capitais. Também em Votorantim conhecemos o Coletivo C e nos encantamos com a maneira que eles interagem diretamente na comunidade no seu fazer teatral. A arte feita na rua neste caso ao mesmo tempo que aponta para uma ausência (do espaço físico para criação), é também uma potência de aproximação com pessoas de pouco acesso à cultura. Enfim, descobrindo novas formas de exercitar a continuidade dos nossos afazeres em dança.

São Paulo – São Paulo é naturalmente uma cidade mosntruosa que muitas vezes engole a gente. Thereza Rocha nos disse em um almoço informal que se sente desaparecer nesta cidade, e eu entendo um pouco ela. Com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo, tantas opções culturais, a sensação que dá é que vamos mesmo desaparecer. Mas desta vez não foi bem assim. Dançamos no Centro Cultural São Paulo com um público excelente nos 3 dias (uma média de 40 pessoas por dia) e recebemos feedbacks muito generosos. Foi também em São Paulo que fizemos o primeiro colóquio com Thereza Rocha e Márcia Tiburi e nos deleitamos com suas palavas dançantes. Devido a esse intenso movimento cultural, São Paulo nos faz ser mais teimosos em nossas convicções artísticas e nos provoca a defender com força nosso trabalho, e isso é muito bom. Enfim, uma cidade desafiadora e importante na tragetória deste projeto.

Fortaleza – Em uma palavra: calor. Fortaleza é uma cidade que abre o coração da gente aos poucos até nos percebermos com o peito escancarado para tudo o que acontece. O calor está no clima, mas também nas pessoas e nos lugares. Fomos muito bem recebidos por essa cidade amorosa e cheia de brisa. Apresentamos o “feche os olhos” no Teatro Universitário para um público muito curioso e participativo; foram muitas pessoas de lugares bem diferentes: estudantes, professores de dança, público espontâneo. Mas a curiosidade foi mesmo o que mais me chamou a atenção. No colóquio com a Márcia e a Thereza por exemplo, haviam aproximadamente 70 pessoas, todas com seus caderninhos de anotação, gavadores, perguntas, compartilhamentos de impressões. Uma troca deliciosa. Além de ser uma cidade muito acordada para a dança do Brasil e do mundo, sede de muitos eventos importantes e com um curso de graduação em dança extremamente atualizado, com uma grade curricular interessantíssima. Quando saímos de lá, ía começar a Bienal Internacional de Dança … uma pena não podermos ficar. Mas trouxemos o calor para cá.

Itapipoca – Certamente a cidade mais inusitada da nossa circulação, quase no sertão do Ceará, pequena e quente. Itapipoca tem aproximadamente 120.000 habitantes. Mas a dança nessa cidadezinha não passa despercebida não! O projeto desenvolvido por Gerson Moreno no seu lindo espaço Galpão da Cena (hoje um Ponto de Cultura) envolve um grande número de artistas criadores e educadores, além de se desdobrar significativamente em toda a comunidade. Gerson dirige 2 companhias: a Cia. Balé Baião e a Cia Rebentos de Dança Contemporânea, núcleo residente e atuante no Galpão da Cena e extensão da Cia Balé Baião. Todos os artistas do Balé Baião são também educadores de dança e circo em projeto municipais e também dão aulas no próprio Galpão, aulas essas que fazem parte da programação do Ponto de Cultura. O que é maravilhosos no trabbalho de Gerson, é sua insistência e dedicação no trabalho continuado, na formação de multiplicadores de dança e no fomento de plateia na cidade. Todo final de espatáculo (aliás, os 2 dias foram super lotados!!!) ele faz questão de conversar com o público, explicar algumas coisas importantes, incentivar para que voltem mais e mais vezes. E eles voltam! Também foi muito especial a troca da desCompanhia com a Cia. Balé Baião através de vivências práticas dos nossos processos de criação e metodologias de trabalho e muita, sempre muita conversa.

Muito obrigada a todas as pessoas maravilhosas que cruzaram nossas viagens!

Muito obrigada des, por me possibilitar experiências tão especiais!!!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

experiências em Sampa

A circulação da desCompanhia na cidada de de São Paulofoi uma maneira de reconhecer/retornar a dançar o feche os olhos para Olhar, graças ao prêmio Klauss Vianna 2012. Poder perceber que um trabalho que produzimos em 2010 ainda é atual e atualiza a gente. O trabalho inicia quando conhecemos o espaço do CCSP/sala Ademar Guerra, onde já conseguimos vislumbrar um ocupação com muitas possibilidades para o feche os olhos.
Na medida que começamos a pensar nos 3 dias de trabalho é quase impossível os deslocamentos por São Paulo não fazerem parte da dança apresentada. Para mim o fato de metros lotados, horas dentro de ônibus e caminhadas para chegar aos lugares, sinto que a dança da desCompanhia não se fez só no palco/sala a des começa a dançar a dança da divulgação, da comunicação e da compreensão do que é circular no grande eixo que é São Paulo, isso me traduz um pouco do nome da desCompanhia de Dança que unidos por um ideal nos desdobramos e tentamos fazer acontecer os trabalhos.
3 semanas cansativas e produtivas (ou vice versa) com alegrias e descontentamentos. A circulação começou assim para mim, conhecendo novas pessoas,  fazendo e revendo amizades que a dança me permite/permitiu construir.
Poder dançar de uma forma falada no colóquio de Thereza Rocha e Márcia Tiburi "foi lindo o que vocês fizeram..." Obrigado pessoas e Obrigado a des.

                                                                                                                 Peter Abudi

Feche os olhos para olhar – por Márcia Tiburi

Fonte: Blog Filosofia Cinza

Feche os olhos para olhar

Quando eles apareceram para mim: Juliana Adur, Peter Abudi e Yiuki Doi, tinham lido o Diálogo/Dança (SENAC, 2012) que escrevi por anos trocando cartas sobre dança com Thereza Rocha. Havia o “Feche os olhos para olhar” da Descompanhia de Dança dirigida pela Cintia Napoli da qual eles fazem parte. Fui assistir.

Na sala do Centro Cultural São Paulo tudo havia desaparecido no escuro ao redor. Também eu. Entrei logo que a porta fora fechada e os bailarinos começavam o rito. Entrei com meu corpo, por que é com o corpo que a gente anda, vem e vai, mas logo vi que algo do meu corpo continuou lá fora como deve ficar quando respeitosamente nos dirigimos ao momento da dança alheia. O escuro ao redor fazia saber que os olhos estavam já fechados, mesmo que os bailarinos, mais adiante, nos pedissem para fechá-los. Cada movimento na direção do assento onde eu devia ficar quieta não se devia notar. Tentei desaparecer, fui feliz.

Quando o corpo da gente some é que entendemos alguma coisa sobre ele. Quando o corpo some, é que cada movimento foi medido. Ao contrário, quando se dança, o corpo não some, fica todo presente porque a medida desaparece dando lugar à linguagem. Nós que assistimos, permanecemos medidos fora da linguagem, abandonados ao espaço no qual não sabemos viver sem regras. Cuidando para não sermos vistos, não olhamos. Olhar seria de arrepiar, e nos faria acordar. Quando, ao ver um espetáculo de dança, buscamos o estado de desaparição, o fazemos como quem se esconde de um perseguidor que só pode se esconder na atenção total ao que se vê enquanto se nos vemos a nós mesmos.

É então que a dança mostra a sua mágica. O corpo sumido diante do corpo que dança descobre a presença total. A presença total surge no silêncio daquele que tenta desaparecer no encontro com a presença do corpo bailarino. O corpo adensa quando precisa se fazer mínimo. Mas apenas se adensa porque os bailarinos performatizam sobre o corpo desaparecido do vidente o lugar de um outro corpo. Aquele que chegando dentro da sala de dança, lembra de um corpo que ficou lá fora.

feche os olhos para Olhar 3 2010_MG_1182

O começo de um espetáculo de dança (será um “espetáculo” de dança?) para quem vai assistir é sempre o próprio corpo que, parado, parece a antítese da dança. Mas quem diz que não se dança parado não sabe o que é dança. Na verdade, não é possível saber o que é dança, porque a dança só se experimenta como prazer ou sofrimento no corpo. Como poesia: silêncio e som.

Com que corpo eu vou à dança que você me convidou?

Em  “Feche os olhos para olhar” descobrimos que olhar é dançar. Descobrimos, porque os bailarinos fecham nossos olhos e nos ajudam a olhar.

 feche os olhos para Olhar 11 2010_MG_7698_thumb[2]

Fechando os olhos para olhar, começamos a olhar no tempo do olhodançar.

A dança é o corpo existindo quando esse corpo inteiro que respira, fala, anda, olha, percebe que vive e que está em movimento parado: danço. A consciência é uma palavra gasta, mas ela tem sentido quando pensamos que se trata de cair no corpo, como quem cai no sonho. A dança opera uma revolução contra o meu estado de ser do mundo. Se seu corpo lhe foi roubado pela publicidade ou pelo trabalho, pela injustiça ou pela dor, a dança é um resgate. Se os inimigos do corpo, os seus detratores e caçadores, estão sempre por perto, a dança os afasta. O estado de dança é um estado de corpo devolvido a si mesmo, por quem se move dançando, por quem, olhando, percebe que seus olhos são todo um estado de corpo.

feche os olhos para Olhar 2010_MG_0850

No “Feche os olhos para olhar” é o que aprendemos a ver o invisível que somos, o invisível onde estamos. Ali, vemos que ver não é bem assim. A dança não é ali o que “ensina” a ver, embora os bailarinos brinquem levando-nos a um outro lugar. Aonde nos levam é ao lugar do olhodançantedo qual fomos roubados. A dança é o que estamos olhando-juntos, enquanto, dançamos-juntos, mesmo quando sentados, mesmo quando parece que estamos apenas assistindo. Lá fora ficou o corpo aviltado por séculos de repressão, ali dentro ele está vivo.

O olhar nos leva a dançar e nos levando a olhar nos devolve ao estarsendo da vida. O espetáculo “Feche os olhos para olhar” é todo feito de convites a saberdançar. Ele é feito daquele “dansçaber” que começa  com um estar-não-estando, aquele mesmo que experimentamos pelo avesso quando chegando na sala de dança queremos sumir com nosso corpestorvo. O “dansçaber” da Descompanhia nos retirou desse corpo, nos levando a olhar outro corpo, outro mundo. E nos pôs nele novamente por meio de uma devolução à vida. O corpo foi devolvido ao corpo no exercício do escuro que faz ver.

“Feche os olhos para olhar” nos convida por meio da narrativa encenada, um traço de teatro-dança que atravessa o cenário do tempo dançado pelos três bailarinos. A narrativa é só um traço, não um resumo de um sentido, não um resumo de coisa alguma. O dançado está ali, somente dançante brincando conosco no dansçaber do corpo que fala, anda, pula, faz coisas de todo tipo. Como quando se apoiam nas coisas conhecidas e comuns: a chaleira e a xícara de chá, as roupas (a saia rosa), ha via no espetáculo uma gelatina. As legendas:

  • Abraçar,
  • Dançar sem se mexer
  • Espirais
  • Falar o que se pensa
  • Mover no nível baixo
  • Tocar alternado.

Vão dando o caminho do rito. Tudo é acontecimento.

 feche os olhos para Olhar 1 2010_MG_0891

Os bailarinos falam. Em alguns momentos do espetáculo a bailarina enuncia o “começo” fazendo do começo sempre uma potencialidade . A voz é corpo que dança. A voz que nos convida, nos ensina, nos deixa parados. O papel da voz nos acorda para outros verbos: ouvirdançar é um deles. No tempo em que olhodançar é nossa prática descoberta, ouçodançar torna-se uma novidade efêmera e eterna. Mas o que isso quer dizer: ora, cada um que pense, que descubra o que isso pode querer dizer para si mesmo…

 feche os olhos para Olhar 4 2010_MG_1032

Quem quiser saber mais:

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Olhares Partilhados - Encerramento do Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012 (01.12.2013)

A desCompanhia convida você para OLHARES PARTILHADOS - evento de encerramento do Prêmio Funarte Petrobras de Dança Klauss Vianna 2012.
Queremos compartilhar nossas experiências artísticas vividas na Circulação Nacional do espetáculo feche os olhos para Olhar.
Será um encontro para conversar, mover e trocar questões de interesse comum relativo ao fazer da dança.

  • Data: 01 de Dezembro de 2013
  • Horário: 18h
  • Local: Vila Arte Espaço de Dança - R. Saldanha Marinho, 76 - Sala 3, Centro, Curitiba - Paraná

Equipe desCompanhia de dança

descompanhia.blogspot.com.br
+55 41 32338034 / 96018553
skype: descompanhia

Cartaz Klauss Curitiba_Olhares Partilhados