Espaço de discussão e reflexão sobre a experiência do olhar e suas reverberações no corpo na construção/remontagem do espetáculo de dança contemporânea "feche os olhos para olhar" da desCompanhia de dança.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Ausência de palavras - Osho

Se possível, viva uma experiência e não a fixe com quaisquer palavras, porque isso a tornaria estreita.
Você está sentado... é um anoitecer silencioso. O sol se foi, e as estrelas começam a aparecer. Simplesmente esteja presente. Nem mesmo diga: “Isso é belo”, porque no momento em que você diz que algo é belo, ele não é mais o mesmo. Ao dizer belo, você está introduzindo o passado, e todas as experiências que você disse serem belas coloriram a palavra.
Por que trazer o passado? O presente é tão vasto, e o passado tão estreito. Por que olhar por um buraco na parede, se você pode sair e olhar todo o céu?
Tente não usar palavras, mas, se precisar, seja muito cuidadoso em sua escolha, porque cada palavra tem uma nuança própria. Seja muito poético a esse respeito.
Retirado da capa de trás do livro:
Título Livro - Osho todos os dias – 365 meditações diárias
Autor: Osho
Editora: Vênus

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cegueira por desatenção (ou cegueira para mudanças): Tentamos construir narrativas com aquilo que vemos; o que não se encaixa é eliminado.

“Nosso cérebro tenta, constantemente, construir narrativas significativas daquilo que vemos. As coisas que não se encaixam muito bem no roteiro ou têm pouca relevância são eliminadas da consciência.”
Trecho da reportagem “Por que somos cegos” da revista Mente e Cérebro – A revista que junta as partes - edição 203 - Dezembro 2009.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Os modos de relação do ser humano com o mundo

Os modos de relação do ser humano com o mundo são “as relações prático-utilitárias com as coisas; relação teórica; relação estética etc. Em cada uma dessas relações, modifica-se a atitude do sujeito para com o mundo, já que se modifica a necessidade que a determina e modifica-se, por sua vez o objeto que a satisfaz” (VÁZQUEZ, 1978, p.55)
Texto acima retirado do artigo da psicóloga Andréa Vieira Zanella: Sobre olhos, olhares e seu processo de (re)produção. In: Lúcia Helena Correa Lenzi; Sílvia Zanatta Da Ros; Ana Maria Alves de Souza; Marise Matos Gonçalves. (Org.). Imagem: intervenção e pesquisa. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006, v. , p. 139-150.

Sobre a relação eu/outro

Vygotski (1986, p.82) esclarece que:
“Temos consciência de nós mesmos porque nós a temos dos demais e pelo mesmo procedimento através do qual conhecemos os demais, porque nós mesmo em relação a nós mesmos somos os mesmos que os demais em relação a nós. Tenho consciência de mim mesmo somente na medida em que para mim sou outro […]”
Nessa perspectiva, o encontro permanente é incessante com o outro possibilita reconhecer a pluralidade do que se é e do que se pode vir a ser (sobre a temática alteridade cf. ZANELLA, 2004a).
(Andréa Vieira Zanella)

Sobre o olhar estético…

“Educação estética significa a “formação nos alunos de atitudes estéticas diante a realidade” (ESTÉVES, 2003, p.39), atitudes essas que se fundamentam em relação estéticas nas quais “[…] o humano como ‘centro de gravidade’ se desloca da realidade vivida’ para outra, a estética, mais plena e profundamente humana.” (VÁZQUEZ, 1999, p.152.
Pessoas concretas, marcadas pelas condições sociais e históricas que as forjaram podem estabelecer relações de variadas formas com a realidade, com os outros e consigo mesmos, relações essas que podem ser prático-utilitárias ou estéticas. Enquanto as primeiras caracterizam o plano cotidianidade, estas últimas destacam-se na medida em que possibilitam ao sujeito descolar-se da realidade vivida e imergir em outra, mediada por novos sentidos que contribuem para o redimensionamento e re-significação do próprio viver/existir.
Temos nos debruçado sobre essa questão, sobre os olhos que não apenas vêem, sobre olhares estéticos que fundamentalmente passeiam, fluem, que estabelecem relações. Não qualquer relação, mas sim relação estéticas que, como um dos modos de relação do homem com a realidade, consistem em uma experiência pautada  por uma sensibilidade que descola a ambos, sujeito e objeto, do imediato, da existência física e concreta. Ainda que subsistas, essa existência aparece como mera condição para a afirmação do ser humano em sua plenitude.
O olhar estético trata-se de
um olhar mais livre na sua apreensão significativa do mundo, pois busca outros ângulos de leitura, não para ver o objeto em sua pré-suposta verdade, mas procurando, na relação estética com ele estabelecida, produzir novos sentidos para a configuração de realidades outras. (REIS; ZANELLA; FRANÇA; DA ROS, 2004, P.10).
Olhares estéticos, portanto, dependem não somente da visão, mas fundamentalmente da relações que pessoas concretas estabelecem, por seu intermédio, com a realidade. Relações que são estéticas na medida que consistem em experiências pautadas por uma sensibilidade que descola a ambos, sujeito e realidade ad-mirada, do imediato, da existência física e objetiva. Ainda que subsista, essa existência aparece como mera condição para a afirmação do ser humano em sua plenitude.”
Trecho acima foi retirado do artigo da psicóloga Andréa Vieira Zanella:  Sobre olhos, olhares e seu processo de (re)produção. In: Lúcia Helena Correa Lenzi; Sílvia Zanatta Da Ros; Ana Maria Alves de Souza; Marise Matos Gonçalves. (Org.). Imagem: intervenção e pesquisa. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006, v. , p. 139-150.

Notas para descondicionamento do olhar

Li o artigo “Sobre olhos, olhares e seu processo de (re)produção” da psicóloga Andréa Vieira Zanella e encontrei analises interessantes sobre o olhar. Eu coloquei o título acima para postar no nosso blog, não faz parte do texto original. Para quem quiser o artigo na integra deixo no final a bibliografia dele.
  • Problematização de formas estereotipadas – é fundamental olhar para o que se repete, para as reificações que caracterizam nosso cotidiano e que nos cegam para as possibilidades de diferenças;
  • Convite à experimentação de outras formas de perceber e de expressar criativamente – o igual nunca é o mesmo, assim como nossos olhares não o são. Desse modo, a mesma realidade da qual participamos diariamente, os mesmo caminhos, os mesmos lugares, objetos e pessoas, sempre podem revelar o nunca visto, os detalhes despercebidos, os ângulos envoltos nas aparências da superfície, as diferenças em razão de cores, sabores, texturas, luminosidades. Nossos modos de expressão igualmente podem acolher novas possibilidades;
  • Desestabilização da segurança da percepção do sujeito – romper com o instituído não é tarefa fácil, pois abala certezas e convicções e nos lança diante de um novo, do imprevisto. Sacks(1995,p.132) explica que “Não se vê, sento ou percebe em isolamento – a percepção está sempre ligada ao comportamento e ao movimento, à busca e à exploração do mundo.” É difícil, portanto, desestabilizar percepções porque com isso nos lançamos por inteiro, como corpo, pensamento e emoção, diante do desconhecido, o que necessariamente vem acompanhado de angústia e incertezas. Essas, porém, são inevitáveis em processos de emergência de algum novo, sendo o sofrimento que as conota caracterizado por Vygotski (1990) como as “torturas da criação”.
  • Desafio à descoberta de novos traços, novas formas, novos sentidos – o cristalizado se objetiva de vários modos, porém em todos eles há a característica da negação da polissemia da vida. A vazão à proliferação de sentidos, bem como a reflexão sobre os caminhos éticos pelos quais enveredam é fundamental à re-significação de saberes e fazeres, à criação de novas formas de existências.
ZANELLA, A. V. . Sobre olhos, olhares e seu processo de (re)produção. In: Lúcia Helena Correa Lenzi; Sílvia Zanatta Da Ros; Ana Maria Alves de Souza; Marise Matos Gonçalves. (Org.). Imagem: intervenção e pesquisa. Florianópolis: Editora da UFSC, 2006, v. , p. 139-150.